Contos de consultório: Antes de definir seus objetivos, defina seus medos
- andreaalterio
- 3 de abr.
- 7 min de leitura
Atualizado: 4 de abr.
Parar de fumar, muito além da fome...é a mais pura emoção.

Era um dia calmo quando J. entra no consultório indubitavelmente agitado. Seus pensamentos estavam mais rápidos que o normal e ele não parava de andar de um lado para outro. Era um claro sinal de excesso de energia (em madeira) que não se dissipava, mas que o consumia rapidamente. Consumia sua capacidade de raciocínio, suas palavra, ele estava muito ansioso.
Havia decidido parar de fumar, havia 4 meses, com a mesma intensidade de parar sem dificuldades (segundo relato) ele se sentiu o desespero da vontade batendo à sua porta. Tinha vontade de tudo e energia ou impulso para nada.
J. estava ali ansioso por uma ajuda, milhares de pensamentos vieram à tona, um desespero e o consolo que ele pensava só encontrar na comida estava lhe trazendo mais uma preocupação. Em um mês já ganhara 5 kg extras... a mensagem de ajuda era clara, mas o que mais lhe incomodava, era a sensação de pavor que lhe assolava, os pensamentos aleatórios lhe deixavam zonzo.
Começamos a conversar e sua primeira pergunta é o porque parar de fumar era tão difícil, porque sentia vontade de comer e porque, porque estava tão ansioso, com pensamentos obscuros, com uma inquietude que nunca sentira.
Sua sensação era que na época em que fumava, a fumaça do seu cigarro nublava sua mente e encobria seus sentimentos. Estava tudo velado, guardado ou escondido sob este manto branco de fumaça.
O hábito de fumar é um fator que contribui para diversas doenças, de bronquite a cânceres (como pulmões, laringe, boca, esôfago, pâncreas, rins, bexiga e colo do útero), além do desenvolvimento de doenças é responsável por uma série de disfunções desde os puramente estéticos aos mais evoluídos como comportamentais.
O hábito de fumar (qualquer modalidade) possui facetas claras na saúde física, mas também mental, existem duas faces comportamentais interessantes, para alguns faz parte de um contexto social de grupo com pertencimento ou de modernidade, por outro lado pode causar distanciamento social ou dificuldade de relacionamento, gerando maior tristeza e isolamento propriamente, com momentos de introspecção a síndromes emocionais mais profundos.
Estava claro que J. passava pela inquietação deste despertar...
Com tantas informações claras, porque largar o hábito de fumar é tão difícil?
Porque, apesar da consciência destas informações existe consequências imediatas sejam físicas quanto emocionalmente como ansiedade e ganho de peso.
A dificuldade emocional em abandonar esse comportamento (fumar) é um clássico modelo de dependência, seja ela química quanto de comportamento emocional. Uma das razões para isso reside num sentimento muito forte e primitivo, vinculado à nossa energia mais primordial, a nossa energia de criação que está relacionada ao mesmo elemento que rege nossa emoção de medo.
Desta maneira, abordar as dificuldades do hábito de fumar, exige estratégias multifatoriais, deste técnicas claras e objetivas (racionais), como estratégias alimentares adicionada da análise, uma conceitualização profunda do comportamento emocional vinculado.
O medo pela simples idéia de mudar, de sentir falta dos padrões estabelecidos socialmente, medo de ganhar peso, medo de como irá se sentir, medo de cair em outros sentimentos como ansiedade, medo... por aí vamos .
No âmbito contextual alimentar, a nicotina pode suprimir o apetite e impactar a percepção de sabor e cheiro, tornando os alimentos menos atraentes, o que leva muitos fumantes a serem mais “magros”. O hábito de levar o fumo à boca, sugere um mecanismo paralelo que ocuparia a mesma orientação neural do hábito de comer, substituindo ou suprindo parcialmente esta atividade/vontade. Contudo, apesar de disto, impactos importantes na saúde são bem claros e fumantes são normalmente falsos magros, com gordura concentrada e, zonas de maior risco perfazem a maioria.
Assim evitar o fumo, é fundamental para melhorar a saúde de forma geral mas quando falamos em abandonar o hábito entramos em uma seara diferente. Estratégias com uma alimentação nutritiva e ajustada aos princípios básicos de restauração energética uma vez que o fumo causa uma interrupção do fluxo do Qi (energia) e do sangue, podendo interromper o fluxo de energia vital, o que leva a desequilíbrios profundos no corpo. Pulmões e rins são alvo claro dos males do hábito, responsáveis pela respiração, pela transformação de energia e pelo o metabolismo e energia da água, são particularmente afetados levando a secura nas vias áreas, bem como acúmulo de calor e intoxicação, gerando mais sintomas. Este calor ou como conhecemos no pensamento da medicina ocidental, inflamação, atinge o fígado e coração, sobrecarregando-os e gerando instabilidade emocional, dependência, insônia e outros sintomas mais fisiológicos descritos pela toxicidade do hábito.
Por isso, ajustar a alimentação para nutrição destes alvos energéticos é alinhar práticas ancestrais com atualizações modernas, perfeitamente. Além disso, a prática de exercícios à sua rotina, traz à tona uma estratégia tríplice, pois atingirá a base metabólica, queimando calorias, ajudando no controle de peso, auxiliará tanto na base energética com a recuperação da oxigenação e desintoxicação quanto ocupando tempo, desviando atenção do hábito de comer e, na última base do tripé, o comportamental ao reduzir a ansiedade por colocar-se em movimento, alterar o foco da oralidade e ainda desviar a atenção de pensamentos negativos ao inundar o corpo com moléculas que instigam o prazer.
Quando analisamos o comportamento de largar o fumo, o medo que vem à tona precisa ser tratado. As próprias palavras vinculadas à mudança do comportamento despertam certa ansiedade e precisam ser contextualizadas na vida de cada pessoa. Estamos falando das palavras: abandonar, parar, interromper, largar (o hábito/fumo), palavras como esta geram impactos importantes nos pensamentos e emoções, pois são vinculadas com aspectos negativos inconscientes que estão há muito ali, reservados, sem vir à tona gritar seus sintomas.
Quando tomamos por base o impacto destas palavras na pessoa, pensamentos e experiências de vida surgem dando cor ao sentimento de medo que fora relatado e assim, de forma mais norteada, é possível tratarmos esta face da mudança do hábito.
O hábito de fumar muitas vezes tampona, preenche um espaço vazio, um vácuo emocional que, por muitos fatores, precisa estar vinculado à uma atividade oral. A ‘falta de...’ objeto muitas vezes desconhecido ou ignorado é o que leva o sujeito a preencher com alguma atividade, às vezes de escolha até aleatória, dentre elas o hábito de fumar. Deixar o hábito é dar voz ao vazio que guarda dentro de si. E este buraco escuro nos traz ansiedade e medo do que estaria ali dentro clamando por luz.
Por isso, a maioria das vezes, antes de definir nossos objetivos, precisamos definir nossos medos. Uma vez declarados sabemos contra o que estamos lutando e, assim, o abandono de um hábito não será então simbolicamente encarado como o retorno a um ponto de abandono emocional, que foi acobertado com um tapete de fumaça.
Do ponto de vista prático algumas ferramentas foram usadas na manutenção da interrupção do hábito de fumar de J., nosso foco era evitar a troca do desejo oral de fumar pelo de comer, bem como restauração da saúde emocional e do corpo.
Tratamos este ponto com muita conversa focando visivelmente na sua habilidade comunicativa, dissipando o calor que ele acumulava e, era justamente o ponto de ancoragem que se ligava com sua necessidade de ocupar a boca.
Objetivamente para combater a vontade de comer (fome emocional), concentramo-nos na alimentação saudável, usando alimentos de baixo valor energético, hidratação, estratégias fitoterápicas como chás de ervas específicas, estratégias como mascar chiclete ou bala podiam ser usadas para o desmame, mas por tempo limitado e, com muita cautela devido aos males vinculados à este hábito como disfunção gástrica, manutenção do incentivo da função oral, estímulo do hábito de beliscar e etc... então atenção foi rigorosamente dada quanto à escolha de um hábito em substituição ao outro.
De forma bem pragmática e rasa, para que se gerencie a fome e os desejos, comer regularmente alimentos saudáveis e hidratar-se é fundamental. Mas saber o que está levando à boca emocionalmente é tão importante quanto o que se está comendo.
Distrair-se é importante, envolver-se em atividades novas, mudar o foco mental do impulso para uma atividade diferente, como passear, ouvir música, ler um livro ou praticar a relação social, entrando em contato com alguém para obter apoio e incentivo ou até para preencher o “vazio” do cigarro com emoções amistosas
Foram longas conversas estruturando este passo a passo um plano perfeito para J.
A respiração profunda lhe trouxe clareza, fazer os exercícios de respiração profunda para acalmar a atividade neural e reduzir os desejos foram não somente muito interessante, como precisamente poderosos.
Dormir foi um desafio no início, mas era essencial. É uma atividade tripla, pois além de tirar completamente o foco do vício e controle do impulso, repara o sistema de recompensa limpando os vieses do fumo no corpo e traz maior clareza e compreensão de si mesmo e sua saúde.
Analisamos seus gatilhos, sua percepção dos eventos e os pensamentos que desencadeavam os impulsos, tudo isso foi muito importante para o manejo adequado. Criamos novos hábitos ou rituais que ancorassem um prazer para J. (como por exemplo: ele normalmente fumava depois das refeições, tentamos beber um chá neste momento ou mesmo escovar os dentes ou dar um passeio, usando algo que lhe traria prazer como a ato de fumar, praticado no mesmo momento em substituição à ela. Para ele, caminhada ouvindo música foi um divisor de águas).
Ele estava diligente no seu propósito, exatamente como todos devem estar, evitava se expor aos riscos, evitando áreas para fumantes, lugares, pessoas e eventos que lhe despertavam o impulso de fumar.
Foi um momento ameaçador socialmente falando, mas ao mesmo tempo muito esclarecedor e lhe trouxe uma revelação desconcertante.
Fizemos uso de estratégias como terapias complementares como fito, aromaterapia, homeopatia e acupuntura tanto para estimular o fluxo de Qi e sangue, quanto para ajudar na força de reação inata do corpo, ajudando a reduzir os desejos e os sintomas de abstinência.
J. colocou-se em movimento, pois além de inundar o corpo com moléculas de bem estar, traziam satisfação e um momento de reflexão, vinculados à mudança de foco e desintoxicação do corpo.
Mas para além de todas estas ferramentas práticas, fizemos análise. O apoio emocional é prioritário para sustentar a decisão e dar impulsão à sua ação. Perguntas primordiais a serem respondidas como que vazio você está encobrindo? Do que você tem medo?
Porque não se sente merecedor de uma vida saudável? Dentre tantas outras que surgirem.
Após profunda reflexão assim como J. você entenderá a si mesmo e como deixar hábitos nocivos de uma vez, sem os substituir por outros, muitas vezes mascarados de inofensivos, como o mascar chiclete, beber para afogar ou comemorar afetos ou tantos outros que podem surgir.
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Dra. Andrea Alterio é nutricionista – psicanalista e homeopata, especialista em nutrição clínica – funcional e dietoterapia chinesa (e mais 7 especializações), com mestrado em nutrição humana e comportamental, psicanálise clínica e homeopata. Possui formações no Brasil e Itália em práticas integrativas em saúde.
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