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Contos de consultório: O doente do retrato quebrado

Atualizado: 1 de jul.


fragmentado
fragmentado

 

“A lagarta para virar borboleta não precisa de um milagre,

precisa de um processo” (desconhecido)

 

Era uma noite de sono agitada, após anos sem descansar adequadamente e no limiar de suas forças um homem se percebe amarrado em fios e preso a pregos rígidos, com a sensação de ameaça e ao mesmo tempo sem sentido...um vazio.

 

Um leve despertar coloca uma de suas mãos nos fios que o amarravam e o conduzem à eletricidade, sua outra mão se apoia no centro do corpo enquanto sua boca se abre e seus “pregos” são engolidos. Suas amarras estavam em máquinas e medicamentos que o fixavam naquela posição, uma luz opaca pisca, o vento sobra por entra cortinas, um porta-retrato vai ao chão.

 

Teria vida ainda ali? As cores estavam desbotando, estava enlouquecendo, perdendo o controle?

 

Ao se questionar, aquele homem que outrora era impecável, relutante entra em contato consigo mesmo, com sua vida, com o que seria sua energia se esvaindo e, enquanto tenta segurar seu corpo físico numa cama, ele busca sua energia despedaçada no ambiente.

 

Esta era a visão do homem que entrou no consultório pela primeira vez, percebendo que existia algo além do, embora maravilhoso, trabalho médico atual.

 

Durante o entra e sai de uma equipe bem treinada, do liga-desliga de máquinas e sensores, de uma tomada e outra de doses e mais doses de químicos, ninguém havia perguntado como ele estava se sentindo.

 

Ele só queria dormir.

 

Ele queria buscar alguma paz, aquela que reside dentro de nós sob nome de alma, que é capaz de se conectar com seu corpo através da energia vital, atingindo sua morada da mente e relacionando-se com o sublime, para encontrar o caminho reverso e ao acordar, que pudesse se sentir bem.

 

Foi assim que ao sair do hospital em seus primeiros atendimentos após a tomada de consciência de sua saúde que aquele homem buscou ir além do que a medicina contemporânea lhe ofereceria, um corpo físico livre de dor e quiçá sintomas, mas contraditoriamente amarrado e sem liberdade de movimentos.

 

Numa busca “aleatória” chegou ao consultório de medicina complementar, onde encontrou um caminho, seu norte, por onde tatearia pedras e buracos, mas sentia-se firme para seguir à diante.

 

Durante longas sessões terapêuticas, ora adormecido, ora ao vivo, ora solitária, ora em par, a busca por fortalecimento das respostas fisiológicas bem como de sua energia se fazia presente e, nunca tinha feito tanto sentido os postulados de Hering, aprendido ali naquela sala.


“a verdadeira cura do indivíduo deve começar de cima para baixo,

de dentro para fora,

e na ordem inversa ao aparecimento dos sintomas.”

(Hering)

 

Como forma de restabelecimento de sua saúde, a alimentação, seu remédio integrativo, um símile, anunciavam a perfeita conjunção Hipocrático-Hahnemanniana (menção aos pais da medicina e homeopatia), mas faltava algo.

 

Aquilo que o acolhimento terapêutico margeava, instigava sem se expressar claramente;

Estava ele, realmente deixando de lado aquilo que havia o feito adoecer?

 

Esta era uma questão que o assolava, afinal, o que o havia feito cair de tal forma?

 

Ele, como homem comum, percebeu que mais um grande nome surgia em sua frente, era Freud. Mas, como grandes nomes, contraditados na história, poderiam se alinhar bem ali, bem ao seu lado?

 

Ligados à saúde e à busca de questionamentos, de verdades, todos questionaram, questionaram a si, questionaram o que estava em prática, questionaram seus aprendizados e ousaram romper com certo princípios fossem seus ou da sociedade, ousaram inovar e reinventar.

 

Foi então que percebeu que durante a primeira sessão se sentiu perguntado, se sentiu sob um controle que não era seu e tentou resgatá-lo a todo custo, com justificativas e racionalidades, sem se doar, sem se perceber.

 

Pouco tempo foi necessário para ceder, notou que poderia sair daquela moldura do seu autorretrato um dia idolatrado, hoje quebrado, olhando de fora aquela imagem esmaecida cedeu à instintos que não sabia que existiam, sucumbiu a si mesmo e percebeu-se seguro. Ali poderia se investigar, se questionar, dar voz aos seus pensamentos mais confusos e percebeu que durante as conversas com livres pensamentos, palavras, emoções, percepções e sonhos, os caminhos iam se traçando, uma nova direção ia surgindo.

 

Entre uma pergunta instigante e outra, as reflexões aconteciam, relacionamentos entre fatos que pareciam desconexos vinham à tona, davam respostas e norteavam condutas, novas escolhas iam surgindo, novos hábitos se formavam, entendimentos e compreensão ficavam mais claros.

 

Aquelas conversas terapêuticas eram verdadeiras cebolas que iam perdendo suas camadas inebriando o ambiente até que o centro ficasse acessível para um novo contato íntimo que o restabeleceria, era como se passasse uma borracha naquele emaranhado de emoções pesadas que estavam ali dentro, presas e condensadas.

 

Aquelas emoções, vivências, sentimentos que haviam ficado ali presos, acumulados de energia latente precisavam se dissipar, precisavam se manifestar, mostrar àquele corpo, até então sisudo, conciso e incrédulo que existia um algo a mais que precisava de seu olhar.

 

Num lugar livre e cheio de si mesmo, ele finalmente entendeu que suas dores físicas, aquelas que o fizeram cair em adoecimento, que demandaram sua redenção, e lhe trouxeram à luz outra perspectiva, nada mais eram que condensados de energia presos num processo lesional que tinha por causa condutas e emoções reprimidas, hábitos de vida paradoxalmente desconectados com o que de fato significava uma vida, uma energia de morte, sicotizada e que ressoava com o ambiente em que estava imerso.

 

Foi neste mesmo lugar que se viu livre de si mesmo, que permitiu-se fluir, que enxergou que poderia reverter sua situação, tomar as rédeas de sua caminhada e após a tomada da ciência de seus atos, percepções, escolhas e responsabilidades, deixou a ansiedade e adormeceu.


 

 

Dra. Andrea Alterio é nutricionista – psicanalista, terapeuta TRG e homeopata, especialista em nutrição clínica – funcional e dietoterapia chinesa (e mais 7 especializações na área da saúde: transtornos alimentares, comportamento, emagrecimento e obesidade, câncer, bioquímica médica entre outras), com mestrado em nutrição humana e comportamental, psicanálise clínica, reprocessamento generativo e homeopatia.

Possui formações no Brasil e Itália em práticas integrativas (fito e aromaterapia) em saúde.

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